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sábado, 11 de setembro de 2010

Lágrimas afiadas de uma incerta moça

A noite de ontem não passou ainda. Uma menina se desmanchava em lágrimas. A beleza ficava mais bonita do que nunca. Essa menina não era muito afeita aos afoitos. Olhinhos sapecas que brilhavam na noite barulhenta. Eles faziam um silencio encantador. Língua afiada feito navalha de malandro das antigas. Vestido branco que balançava com o vento. Sensações amorfas nos tomavam de súbito e passavam deixando rastros alegres. Outra vez as lágrimas, que transbordavam seu rosto e seu corpo vazio e pleno de tudo. Ela não queria nada, e falava de Pessoa com uma vontade dos diachos. Uma moça quase sem ambições, quase. O gosto de vinho molhava a vida. Caranguejos, almas analógicas e almas digitais dançavam o som dos zumbis com uma nação de entidades sampleadas. Noite de desassossego, de vulnerabilidades e de risos imersos num mar de força. A pressa, o resfriado e a repulsa de gente, foram embora às carreiras. Essa noite eternizada no presente agarrou o tempo pelos cabelos, e o convidou para uma festa descombinada, de poucos. A menina descosturava o mundo, puxava linhas remotas e metia agulhas no horizonte. As forças daquela noite não cabiam no seu corpo que dançava. Ela não sabia correr, mas dançava arrebatada, inocente e maliciosa. Como o vento meio frio que açoitava a cidade adormecida, ela desmanchava-se em mil linhas e surgia de novo em desdobros carnais.

Maicon Barbosa

3 comentários:

Yon disse...

Essa moça tá diferente ...Nos deixa desassossegado, eita Muier do cobrunco!!s

Jéssica Furlan disse...

Yon de uma olhada na comunidade do orkut, Doidos por Livros.. Terá uma surpresa.. Abraços Jéssica

Maicon disse...

Às vezes, essa moça é a própria vida. Cheia de caminhos que ainda nem surgiram. Povoada de oscilações perturbadas... E a beleza, mas a intranqüilidade também, é justamente essa oscilação que desassossega...