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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Perdido

Quem é que sabe pra onde?
Perdido
O corpo é pequeno demais
Olhar, é voraz
Vento se faz ventre
E pari a torpeza
Pura, calma
Fagulha no mar que não se apaga
É hora de brandir
Teimoso, não pergunta
Alvoroço dos diabos!
Surdez que não acaba mais
Lividez da solidão calada
É agora, é agora!

Ana Laura Navegueiro

quinta-feira, 9 de julho de 2009

9 de Julho

Apenas as nossas peles e talvez algum espaço separavam-nos. Eu estava muito próximo dela, mas não tinha a coragem de fitar seus olhos. O prazer era-me grande demais somente por estar tão perto; seu sorriso embriagava-me, eu amava cem vezes a mesma pessoa e ao mesmo tempo.Não pude evitar uma tontura iminente, um sentimento nauseante, como se eu já não tivesse pele nem qualquer coisa parecida com corpo. Ela também estava assim, pairando no ambiente, e os nossos átomos confundiram-se. Mas de repente, volto para a poltrona onde estava sentando e ela retorna ao seu lugar. Parece que o meu corpo está se fundindo aos poucos e pressinto que o meu coração pode sair pela boca. Sorrimos. Alguém conta uma piada, não presto a mínima atenção por que o restante de mim está tenso, mas finjo relaxar. Simulo estar seguro e tento convencer-me que não serei espalhado pelo primeiro sibilar de vento. Ela sorri, o sorriso dela é-me o tudo. Não, não posso dispersar-me novamente, preciso ir embora enquanto consigo! Eu preciso lembrar-me a todo momento que atribuem-me um nome, um endereço, um ofício! Não posso perder-me na frente dela, tentando classificar momentos para além dos momentos, onde conceitos não alcançam. Mas a minha odisséia continua: ela olha para mim. Pergunta-me alguma coisa trivial...Ora ! A minha própria morte seria algo trivial naquele instante. Nem sei como respondi; ela olha - me mais uma vez e parece se despedir. Estará indo embora ? É o que suspeito, e depois , o que se confirma: ela levanta e vai ...

Acabou.

Uma pausa.

Um rio pára de fluir.

Ondas num mar ficam extáticas.

Um cadáver não seria mais imóvel.

Acabou.

Sinto -me completo. Tenho novamente um nome e minha pele limita-me ao meu corpo. Transcendento-me nesse momento, imaginando quando voltarei a vê-la.


Yon Macedo