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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Extratos de incertas conversações virtuais... .. .

Brincadeira 0,,


- Mas o que é isso? Não estou entendendo nada.

- Sei lá! Qualquer coisa. O que você quiser que seja.

- Mas por quê?

- Não tem porquês. Quer por. As explicações não andam por essas terras alagadiças.

- Mas assim ninguém vai saber do que é que você fala.

- (Risos, gargalhadas, estardalhaço...) Pra quê alguém iria querer saber?


Maicon Barbosa

Extratos de incertas conversações virtuais... .. .

Brincadeira 0,


Algumas pessoas sempre criam a alegria em nós...

Alguns encontros sempre são mágicos...

O desejo pelo encontro...

O encontro com o desejo...

Essas coisas atravessam a vida impetuosamente

Fazem-na pulsar com intensidade

Querer a vida! Mergulho numa queda infinita.

Cair suavemente em outros lugares

Perder o fôlego sem se dar conta.

Misturar-se ao ar rarefeito dos pulmões...


Maicon Barbosa

Extratos de incertas conversações virtuais... .. .

Brincadeira 0


Poeta? (risos)...

Adoro o seu senso de humor! Ele é muito sensível...

Aliás, a sensibilidade é extremamente necessária

nessas nossas conversas virtuais/reais.


Gosto de brincar com as palavras.

E como em toda brincadeira, esse gosto é sempre um risco.

A brincadeira colore as coisas, as relações, os afetos, a vida...

Essas coisas também são arriscadas!

Mas o que seria de nós sem o risco?


Maicon Barbosa

sábado, 29 de novembro de 2008

viagem louca

Uma dose de montila limão
E o mundo não é mais o mesmo
excitação brota de um coração atônito
arritimia, disrritimia, alergia, orgia!!


E trinta e seis graus de teor alcoolico
Percorrem loucamente as artérias
Sem limites de velocidade
O cérebro é o centro dessa cidade
Vai bater, vai matar, vai atropelar
Vai escancará!


YON

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Fresta

O olhar têm vida própria.
É... vive perambulando por ai.
Salta nas coisas.
Penetra sem pedir permissão
Invade sem tocar.
Mergulha sem sair do lugar.
Ele sempre me torna, transtorna.
Perturba, inflama e acalma.
Pequena fresta por onde entram as coisas.
Furacão por onde entram as frestas.
Devora, aflora.
Inventa, inverte e ignora.
Sangra...
Morde a beleza e ri com o gosto.

Maicon Barbosa

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Leon Tolstoi para sempre

Leon Tolstoi é conhecido no mundo inteiro como um dos maiores escritores de todos os tempos. Além de grande romancista, foi uma personalidade ímpar na Rússia do Séc.XIX. Pensador cativante, filósofo controverso e intelectual descompromissado com correntes ou linhas de pensamento da sua época, Tolstoi traçou com a sua vida e a sua obra um caminho que sempre remetia às suas próprias vivências e conflitos internos. Embora os seus principais romances tenham conotação histórica, como Guerra e Paz e Ana Karenina, ele sempre conseguia transcrever para suas obras a sua forma de pensar e de ver o mundo.Os personagens de seus romances por diversas vezes passavam pelos mesmos dramas do seu criador.

Pelo que se pode perceber em alguns textos e biografias de Leon Tolstoi, ele era um ser humano preocupado com os problemas sociais que se abatiam sobre a Rússia e o mundo. Sentia-se culpado por ser um escritor rico e famoso enquanto a poucos metros da sua casa camponeses – que na Rússia eram conhecidos como mujiques – morriam de fome e trabalhavam em péssimas condições.

Leon Tolstoi tinha outra preocupação muito interessante. Ele queria que toda sua obra passasse para o domínio público, pois achava que vender seus pensamentos era ainda pior que vender o seu corpo, e, portanto, algo repugnante. Quanto a isso muitos conflitos serão vivenciados entre ele e sua família que jamais aceitará a forma de pensar e viver do escritor.

O que chama atenção em Tolstoi é a sua luta, que perdurou por toda sua vida, de tentar impor concretamente o seu pensamento em suas atitudes. Para isso ele forjou sua própria moral, e de acordo com ela procurou nortear suas ações, sua obra e sua vasta contribuição para toda humanidade. Uma moral que a todo momento ele tentava, segundo suas aspirações, melhorar mais e mais a cada dia.Uma moral que, embora impregnada de cristianismo, obedecia os desígnios do seu sensível coração romântico.

O seu grande sonho era sair de casa, se desvencilhar de sua família e viver nos campos com os mujiques. Queria sustentar-se com o trabalho dos seus braços e o suor do seu rosto, negando a toda humanidade o talento de sua pena. Nunca quis fazer parte da aristocracia russa, nem como proprietário de terras que foi e nem como magnífico escritor. Morreu sem realizar inteiramente este sonho, pois por onde andava era reconhecido pelo povo e de toda parte do mundo acudiam pessoas para conhecê-lo pessoalmente. Sua influência ainda em vida espalhou-se por toda Europa, em todos os meios. Os livros de Tolstoi eram lidos por camponeses e discutidos em grandes centros acadêmicos. Até mesmo um séquito formou-se em torno dele.

Tolstoi nos legou uma vasta obra literária e a sua própria vida como fonte de reflexão sobre o ser humano e o teatro macabro chamado de sociedade.

Yon Macedo



sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Momentos

Por que momentos são só momentos e não se eternizam?
O relógio não pára, a vida passa, e as coisas mais importantes
São perdidas na incosciencia de uma embriagues...

Mas não precisa ser assim...
Posso acreditar neste momento
Posso eternizar este momento...
Numa doce lembrança de quando viver valia a pena!!
Numa doce lembrança de quando sonhar ainda era possível...

Yon Macedo

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Liberdade



A idéia de escrever sobre liberdade surgiu das minhas vivências, experiências e conflitos internos e externos. A leitura de alguns textos de Sartre estimulou-me ainda mais a lançar novos olhares sobre esse tema, sobretudo no contexto da minha vida, nas minhas relações com as pessoas, o mundo e as idéias que circulam dentro dessas micropolíticas cotidianas.
Longe de me aventurar em conceitos fenomenológicos, quero fazer uma leitura mais próxima do vocabulário comum, procurando não me perder em demasiadas abstrações.
Dito isso, cabe-me por fim adentrar nas minhas idéias, em busca daquilo que tenho como liberdade e suas implicações.
Desde muito pequeno tenho escutado as pessoas falarem: sua liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Logo, demarcavam-se para mim os limites de ser livre. Como há muitas pessoas no mundo, eu olhava para todos os lados e sentia-me em uma prisão. Naquele momento eu tinha a liberdade como um fenômeno meramente físico, de forma que, quanto mais pessoas tivessem em torno de mim, menor seria a minha liberdade. Depois pude perceber que as coisas não eram assim tão nítidas. Existiam leis, regulamentos explícitos e implícitos, códigos de ética, de conduta, e uma parafernália moral para limitar a liberdade do indivíduo. Talvez a minha liberdade não terminasse realmente onde começava a liberdade do outro, mas muito antes disso. A partir daí comecei a vislumbrar um mundo cheio de prisões e controles, um mundo em que na maioria das vezes, não tínhamos escolhas e nem poder sobre nossas próprias vidas.
Hoje vejo a liberdade sob outros aspectos, ainda mais sutis e imperceptíveis. Para mim, existem coisas das quais independente da minha vontade, não consigo furtar-me. O problema é que nem sempre esses impulsos se conciliam com as minhas vontades, com meu ideal, o que acaba por gerar conflitos.Com isso, chega o momento da escolha, talvez nesse ponto Sartre nos têm como livres, mas ao meu ver, acabo tornando-e escravo daquilo que triunfa no conflito.
YON MACEDO
(TEXTO EM CONSTRUÇÃO)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mal-estar: nossa nova mina de ouro

Parece-nos que Freud aponta o fenômeno da repressão do desejo pelas regras externas criadas por uma sociedade, como propiciador central do mal-estar humano. Mas, já que é a repressão – em seus vários sentidos possíveis – que constitui mal-estares, por que mesmo após as supostas liberações – ocorridas principalmente ao longo do século XX – ainda paira sobre as cabeças civilizadas inúmeros mal-estares, que às vezes parecem ser mais intensos que outrora? É óbvio que essa indagação, e qualquer outra, não será respondida aqui, pois não se trata de responder algo, mas sim, de manter sempre abertos os campos de pensamento, as variações de percurso.

A repressão aparenta não ser a única coisa que produz mal-estar, pois mesmo com uma considerável atenuação dos aparelhos repressivos – pelo menos em alguns poucos lugares – a vida de uma exorbitante quantidade de pessoas continua se direcionando pela impossibilidade, pela tristeza, pela passividade e pela morbidez.

As redes de poder – que funcionam em macro e micro instâncias – estabelecem não apenas formas de repressão do desejo. Essas instâncias reguladoras homogeneízam as singularidades desejantes, modelam e padronizam as heterogeneidades da existência humanas. Seriam maneiras de produzir o desejo, de gerí-lo, e não de simplesmente reprimi-lo. Esses mecanismos de fabricação e administração de sentidos de vida estão em plena atividade nesse momento.

Diante dos inúmeros discursos de liberação – sexual, religiosa, política, econômica, entre muitas outras – que se proliferam no terreno do presente, parece que o desejo, em suas infindáveis esferas, continua passando por processos de direcionamentos, operados por instâncias reguladoras, empresas da vida que trabalham a todo vapor, ou melhor, em alta performance, maximizando o custo-benefício. O modelo capitalista de mundo se apropria com grande força dos processos de fabricação de sentidos, de produção de desejo, de homogeneização de comportamentos, plasmando formas “bem sucedidas” de vida. Nesse mundo do consumo, em que tudo pode ser comprado, o mal-estar persiste e se transmuta, se multiplica e individualiza. Eis aqui uma rentável mina de ouro da indústria farmacêutica, terapêutica, analítica, religiosa, acadêmica...

Apesar de todas as hipotéticas evoluções que se instauraram na organização das formas-mundo do presente, o mal-estar não foi dissipado, nem sequer reduzido. Parece que a única evolução – ou melhor – transformação ocorrida nos últimos tempos, diz respeito unicamente às técnicas, desde as referentes à maneira de fabricar um determinado produto numa metalúrgica, até a forma “correta” de criar os filhos, de pensar, de praticar esportes, de falar em público, de se relacionar sexualmente, de perceber uma expressão artística... Sempre há uma maneira correta para se fazer tudo. Existem milhões de especialistas sempre prontos para determinar o que podemos fazer ou não. As normas morais se convertem em normas científicas/morais.

A individualidade tão sonhada pelo liberalismo e defendida com unhas e dentes por muitos psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e outros psicotécnicos das mais variadas vertentes, formata modelos de vida – ou sobrevida – que são extremamente débeis, tristes, passivos, cordiais. Vidas serializadas, separadas da potência de agir, individualizadas, subjetividades capitalísticas, talvez sejam alguns dos disparadores dos mal-estares contemporâneos.

Nesse universo de existências atual, que constitui os modos de produção de sentidos de vida, não seria simples falar em um fim do mal-estar. Os próprios modelos de mundo ocidentais parecem necessitar dos mal-estares, apropriam-se deles para a manutenção do processo de perpetuação das paixões tristes, da impossibilidade de ação autônoma e da submissão desmedida.


Mlaicon Barbosa

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Passividade, impossibilidade ou atividade política?


Política! Essa palavra que repetimos incessantemente, geralmente tem aparecido com uma carga que provoca extremo incômodo. O significado desse termo sofreu uma desvalorização, ou no mínimo, um redirecionamento, e freqüentemente relacionamos a política unicamente à atuação dos burocratas que foram eleitos e que ocupam algum cargo dentro do arcabouço estatal. Desilusões com partidos políticos, com membros desses partidos, com um determinado sistema de gestão do Estado ou com o próprio Estado, comumente são transformadas em discursos que estabelecem a impossibilidade de atuação política. É como se esse “terrível fardo” chamado política só servisse para gerar corrupção, relações de dominação, desigualdade social, entre outras coisas desse tipo.

Outro fato muito engraçado que ocorre quando falamos de política, é que sempre lançamos toda a culpa pelos problemas da sociedade para os agentes do Estado, e nos abstemos de qualquer responsabilidade. É como se o nosso voto fosse o único momento de participação política. Ficamos inertes diante de quase tudo, porque já escolhemos alguém que tem a obrigação de resolver as coisas. Não se trata aqui de desresponsabilizar ou desobrigar os ocupantes de cargos estatais, nem significa que estamos fazendo apologia à desestatização neo-liberal. As questões são outras: por que achamos que a política não tem nada a ver com a vida cotidiana? Será que as discussões políticas – sejam elas quais forem – não dizem respeito a nós? Por que consideramos que as práticas políticas situam-se em lugares distantes, às vezes inalcançáveis?

Em momentos de predomínio de um sistema totalitarista de governo, parece que a atividade política é encarada de outra forma, percebida como uma questão próxima. No Brasil temos ótimos exemplos disso, e o fervor político que se instaurou por essas terras durante o regime ditatorial é um deles. Diversos movimentos de resistência se proliferaram, e travaram guerrilhas, às vezes quase imperceptíveis, pela democracia. E finalmente ela veio, trazendo consigo uma apatia política insuportável. Pronto, já temos a tão sonhada democracia representativa, e agora, o que faremos com ela e a partir dela?

Apatia política. Esse é um termo adequado para falarmos do nosso momento. A atividade política desses instantes contemporâneos está impregnada de partidarismos e coisas afins, que sempre institucionalizam e hierarquizam as movimentações políticas, estabelecendo formas mórbidas de organização do poder. Será que realmente não podemos vivenciar outras políticas? Talvez precisemos começar a olhar para uma política “menor”, imanente, que seja outra coisa, para além das organizações rígidas, que sobrevoam os humanos, comprimindo-os, despontencializando-os.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Insignificâncias

Ventania arrasta o chão, move tudo.

Poeira que dissolve, agora estou.

Beleza brusca, árida.

Oxigênio ácido.

Enxurrada de quases, poças de possíveis.

Insignificâncias que se multiplicam.

Instantes de flutuações, confusões e tumultos doces.

Correrias imóveis e prelúdios sempre eternos...

Esboço inacabado, aberto, agora estou.

Continuo incompleto.

Não desejo a completude.

Redesenho-me incessantemente, e misturo as partes, cores, texturas, gritos...

Tornados passam por dentro, entre e fora de mim, de nós.

Outras músicas ressoam depois dessas movimentações.

Às vezes o trânsito da vida vai insignificando tudo.

Maicon Barbosa




quinta-feira, 24 de abril de 2008

Fernando Pessoa

Não se subordinar a nada – nem a um homem, nem a um amor, nem a uma idéia, ter aquela independência longínqua que consiste em não crer na verdade, nem, se a houvesse, na utilidade do conhecimento dela – tal é o estado em que, parece-me, deve decorrer, para consigo mesma, a vida íntima intelectual dos que não vivem sem pensar.Pertencer – eis a banalidade.Credo, ideal, mulher ou profissão – tudo isso é a cela e as algemas.Ser é estar livre.A mesma ambição, se nos orgulhamos de que é, é um fardo, não nos orgulharíamos se compreendêssemos que é um cordel pelo qual nos puxam.Não: nem ligações connosco!Livres de nós como dos outros, contemplativos sem êxtase, pensadores sem conclusão, viveremos, libertos de Deus, o pequeno intervalo que a distracção dos algozes concede ao nosso êxtase na parada.Temos amanhã a guilhotina.Se a não tivéssemos amanhã tê-la-íamos depois de amanhã. Passeemos ao sol o repouso antes do fim, ignorantes voluntariamente dos propósitos e dos prosseguimentos.O sol dourará nossas frontes sem rugas e a brisa terá frescura para quem deixar esperar.
Atiro a caneta pela secretária fora e ela rola, regressando, sem que eu a apanhe, pelo declive onde trabalho.Senti tudo de repente.E minha alegria manifesta-se por este gesto da raiva que não sinto.

Fernando Pessoa – Livro do Desassossego

sábado, 29 de março de 2008

2006


Sair da mente, vislumbrar o presente...
Ficar absorto no dia de hoje
Um conhecido morreu do coração
Tinha quarenta e quatro anos
Calçava quarenta e dois
Morava na rua um
Casa duzentos e onze
Provavelmente será sepultado
Num caixão de oitocentos reais, ou mais!!

Vejo todos morrendo e eu vou ficando...
Parece até que sou imortal
Alguém me chamou no trânsito
Ao olhar, quase bati o carro...
Menino me pede esmolas
Será que não chego mais em casa?

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Lembro-me de épocas remotas
Onde a senhora vaidade
Brincavas com as pessoas mortas
E aquilo que era verdade
Só se ouvia de pessoas tortas

Depois segui adiante
Brincava de senhora viva
Em meio a pessoas errantes
Entortando os caminhos da vida
Quis eternizar aqueles instantes

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Como sou filho do meu tempo!
Como posso tentar negar isso?
Posso enlouquecer, posso mesmo chegar à esquizofrenia...
Sou filho do meu tempo.
Sou herdeiro de todos os ideais desta sociedade em que nasci.
Qualquer tentativa de ruptura brusca é loucura
Qualquer tentativa de fuga é covardia
Por que sou filho do meu tempo
Devo algo a esta civilização em que nasci (DESPREZO?!)
Não tenho maturidade para dar um passo tão longo
Em uma única existência...
(Matos Macedo)

Tibet e Cuba


Uma China gigante, anômala, cada vez mais aberta ao capital se sobrepõe a um nanico Tibet, dominado, humilhado, ferido em sua cultura milenar.
Não, nem o Tibet e nem nação alguma tem direito de se isolar e viver como bem entender. É uma regra implícita do capitalismo, aqueles que não entrarem no jogo serão embargados, desprezados e se vacilarem, invadidos.
Vejam o que aconteceu em Cuba: situação diferente, contexto diverso, mas pano de fundo igual.Uma nação procurando outros caminhos, ousando tentar um caminho diferente, algo que realmente viesse ao encontro do anseio de um povo pobre da América Latina.Muitos não puderam aceitar.Parece que ferem aos olhos olhar para o lado e perceber que tem alguém diferente.Ou talvez seja o fato de o diferente não ser um cliente potencial, afinal, qual o interesse que uma bugiganga chinesa causaria a um monge tibetano?
Saindo da geopolítica e vislumbrando o cotidiano em que vivemos, não estamos distantes da mesma regra.Foi-se o tempo dos ermitãos que se isolavam ou dos hipes que procuravam viver a sociedade alternativa.
Todos fazemos parte do mesmo jogo e não existe qualquer possibilidade de fuga.Quando tentamos fugir, nos damos conta que o capital é onipresente e onipotente.Sejam budistas tibetanos ou católicos cubanos, por mais que rezem para deuses diferentes, são castigados pelo mesmo demônio:o capitalismo.
(Macedo Matos)

sábado, 8 de março de 2008

Janelas

Foto: Sebastião Salgado


Pelo buraco na parede, salto na realidade que passa.
Nessa fresta, a luz das cores inunda a curiosidade.
Em frente à janela perdida em sua abertura,
há milhares de outras olhando pra cá.
Que escrevem paisagens alheias como as que são desenhadas daqui.
Corte em qualquer parede, que recorta um universo cortante...
Fere os sentidos, abre chagas na pele da sensibilidade.
Realidades que se sobrepõem incessantemente.
Correnteza de imagens, texturas...
Espetáculo devorando, incompreendido em movimento.
Que por vezes inventa estátuas e sons de sinos pontuais.
Fenda estática que me percorre, e empurra para direções desorientadas.
Buraco na parede que salta em mim, quando não passo.
Absorve traços e tonalidades de tudo
Janela que engole paredes.

Maicon Barbosa

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Lembrança

Preciso de um desejo de resposta

Necessito da vontade de querer

Tenho sede da bebida que não gosto

Peço esmola daquilo que é meu


Sou metade do que sinto

A outra metade... não cabe em meu corpo


Recebi uma carta escrita por mim

A saudade é grande, mas eu não posso estar comigo agora

Retrocedo anos até chegar aqui

Sou antepassado de sobrinhos filhos e netos


A minha biografia é uma peneira

E por mais que eu a escreva... é uma peneira

E por mais que eu a viva... é uma peneira


Sempre erro de conto...

Nunca encontro... a branca de neve

...Rapunzel...

...Lisbela

Sempre erro de conto...


No fim das contas

Fica apenas a lembrança

De uma vida mal passada

Com fritas e cebola.


Por: W. Santos

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Desarmonias musicais

A música – assim como outras artes em suas singulares expressões – suspende o tempo e cria atmosferas de intensidades, cores e texturas afetivas múltiplas. Os ruídos, sonoridades, barulhos – por vezes estranhos, densos, diferentes, alucinógenos, belos – vão tomando de assalto os ambientes de dentro e de fora, arrepiando, emocionando, levando a viagens pelos lugares de nunca e de sempre – de formas alteradas, novas, encantadoras. Essa fala que vai se desdobrando por aqui nada mais é que uma expressão das alegrias fabricadas por essa maravilhosa arte apaixonante. Lágrimas correm, as coisas vão se desmanchando, aglutinando outras visibilidades, surgindo e ressurgindo sempre diferenciadas. Ela, inunda, vibra no corpo, por todas as espacialidades que às vezes são tão rígidas, tristes, impotentes. Maneira de manifestação que se conecta impetuosamente às possibilidades de invenção de vida. As desarmonias, momentos musicais que produzem uma certa estranheza no corpo, instantes de quebra, de fragmentação dos planos harmônicos, plasmam os instantes de passagem, de redirecionamento sonoro, perceptivo, criativo. Essas fendas sempre cheias, que transbordam territorialidades em movimento, fazem surgir afetos acidentais, sempre ligados às casualidades a que essas passagens remetem. Essas desarmonias não seriam contra-harmonias nem estariam fora da harmonia. Parece que elas percorrem o plano harmônico, misturando as diversas melodias dos elementos constitutivos e os timbres que cavam buracos, compondo os movimentos assincrônicos, as temporalidades assimétricas que vão esculpindo caminhos polifônicos. Dissonâncias, desarranjos, alterações rítmico-temporais, combinações de partículas sonoras variáveis, todas essas particularidades “desarmônicas” fazem surgir aclives e declives que transitam as atmosferas expressivas móveis estendidas pelas maneiras de música. As pluralizações da música e dos afectos e perceptos por ela engendrados, vão alagando, se emaranhando, num tumulto de beleza singular, no ouvido-corpo-ondulável. E continuam simulando coisas indizíveis...

Maicon Barbosa

FANTASIAS

Você é um encanto de maravilha;
A música que toca e mim toca;
A linda rosa que ganhei;
A lua cheia que admiro;
O anjo que imagino;
A maravilha do amor.
O teu corpo é de desejo.
Pessoa encantadora para ser
Correspondida no amor
Como Deus a fez:
Simples, sensível, amável, meiga,
Angelical, ardente, quente, serena,
Selvagem, amante, doce, suave,
Passiva, total.


CABRAL, Reinaldo Ferreira.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Divagações de uma manhã de domingo

Da janela de um apartamento em uma grande cidade brasileira, fico a observar as placas publicitárias e as fachadas de casas comerciais e bancos.Estrelas, símbolos, imagens do que seria a vida perfeita.Imagens a serem vendidas, a serem empurradas goela adentro de todos que se atrevem a olhá-las.A publicidade realmente tem evoluído em parceria com tudo do que há mais moderno na psicologia e em todas as tecnologias.Marketing agressivo, as propagandas saem em busca de suas vítimas potenciais como mísseis teleguiados.E nessa busca por clientes, elas acabam também por atravessar bolsos vazios ou consciências estranhas.Consciências que de alguma forma conseguem se manter afastadas do jogo, porém, não imunes a ele.Pois de qualquer forma, é uma tarefa impossível não esbarrar os olhos num anúncio do Bradesco ou tapar os ouvidos para os sussurros dos cartões visa.Há quem diga ser esse tipo de coisa uma arte, e eu não discordo de tal afirmação, afinal, o que não é arte?Não estou aqui para ter ressentimentos por não ter um cartão visa no bolso ou não poder consumir a grande maioria de produtos que me é oferecido diariamente, mas sim para questionar os caminhos que tudo isso tem levado o mundo. O ressentimento, como já dizia o grande Nietzsche, é um merda, e um ponto inicial muito perigoso para qualquer contestação. É uma afirmação de poder do objeto criticado, poder esse que no caso da propaganda, não pode ser de forma alguma desconsiderado ou ignorado.A propaganda tem poder, tem influência, tanto naqueles que se deixam levar na correnteza consumista como naqueles que param para tecer críticas.Ora, estamos todos num mesmo barco chamado terra, embora em diferentes realidades, em diferentes regiões geográficas do planeta,mas no entanto, temos convivido com as mesmas marcas, os mesmos costumes, olhando impávidos o massacre de culturas milenares e assistindo a um processo de aculturação virtual sem precedentes na história mundial.Tudo o mais se tornou secundário, religião, filosofia,ciências.O capitalismo se tornou, por assim dizer, a mãe de todos os pensamentos, englobando praticamente todos os processos interpretativos do ser humano atual.E dentro desse oceano do qual desconhecemos dimensões ou profundidades, tentamos respirar o ar da superfície, se é que isso seja possível. Tentar pensar a nossa época, isso é praticar a criatividade tentando romper as barreiras mercantilistas do mundo atual.


YON

sábado, 26 de janeiro de 2008

Pensamento e algumas contradições


Linearidade argumentativa, coesão, encadeamento lógico, coerência, precisão lingüística, racionalização dos conteúdos; são algumas máximas frequentemente enunciadas e associadas – quase que automaticamente – às maneiras de pensamento. Aqui estamos nós, diante do suposto maior patrimônio da civilização: o “pensamento racional”. Essa perspicaz junção moralizante que nos amordaça, disfarçada de redundância!

Parece que a necessidade de ordenar as coisas se alastra e reformula-se com uma rapidez assombrosa. Desde que as bases da racionalidade começaram a ser lançadas – mais especificamente, porém não unicamente, nos momentos iluministas que não se prendem a uma determinada data ou lugar – a vida humana tem se orientado por valores transcendentes que passaram a direcionar toda a existência, delimitando rigorosamente as espacialidades permissíveis, as intensidades saudáveis, as maneiras corretas, as quantidades desejáveis, as temporalidades adequadas, os produtos eficientes... Os dogmas racionais, infalíveis na missão de modelar imponentes e destemidos seres do conhecimento verdadeiro, incorporam novas revitalizações na contemporaneidade e continuam aliciando multidões de “fiéis céticos”.

A Lógica, com suas diversas aplicabilidades, se transformou – ou provavelmente sempre teve essa função – na grande autoridade que determina quais são os padrões aceitáveis de vida. É como se toda a existência, necessariamente, precisasse ser lógica, racional, planejada e organizada. A busca estafante da Ciência por leis universais dos fenômenos, sejam eles objetivos ou subjetivos, tem produzido explicacionismos que, ilusoriamente, ambicionam demonstrar a verdade de uma coisa ou acontecimento através do estabelecimento de sistemas teoricamente previsíveis e imutáveis, que funcionariam segundo regras específicas.

O repúdio extremado às contradições, em suas muitas possibilidades de manifestação, funciona como uma espécie de concretização dessa normatização do pensamento. É perceptível um certo consenso proibitivo implícito, presentes em diversos ordenamentos humanos, que atua condenando as quebras e desvios nas/das seqüência lógicas discursivas, formais ou não. Se alguém fala de uma coisa de certa forma, parece ficar obrigado a manter aquela mesma idéia por um tempo sem fim, tudo em nome da intocável coerência suprema. É como se, ao emitirmos determinada fala, estivéssemos fazendo uma promessa oculta de não contrariar aquelas palavras futuramente. A aversão àquilo que expressa a diferença e suas pluralizações, ossifica seres hierarquizados, serializados e tristes, que não desejam nada mais que a ordem e o poder.

Esse processo que evita as manifestações não lineares que jorraram e impelem para várias direções, articula-se de forma a impedir a vazão desejante singularizada. Mas os ímpetos criativos, alegres, sempre proliferáveis, podem sim implodir essas atmosferas conformativas que fabricam subjetividades mórbidas, descoladas das potências acíclicas de uma vida não transcendente, e estender outros solos, sempre móveis, onduláveis. O pensamento pode afirmar outras posições para além da cristalização lógico-racional das coesões demasiadas. É possível devir a diferença, reinventar relações, rearranjar temporalidades e criar territorialidades. As atividades-pensamento podem funcionar plasticamente, de maneiras moduláveis, desligado-se dos ideais de forma, de perfeição, das dialéticas sempre cíclicas, e se abrir às efemeridades desejantes fortuitas, acidentais, metamorfoseando-se incessantemente, espalhando/agregando partículas dos mais inimagináveis territórios existenciais.

Maicon Barbosa