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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Liberdade



A idéia de escrever sobre liberdade surgiu das minhas vivências, experiências e conflitos internos e externos. A leitura de alguns textos de Sartre estimulou-me ainda mais a lançar novos olhares sobre esse tema, sobretudo no contexto da minha vida, nas minhas relações com as pessoas, o mundo e as idéias que circulam dentro dessas micropolíticas cotidianas.
Longe de me aventurar em conceitos fenomenológicos, quero fazer uma leitura mais próxima do vocabulário comum, procurando não me perder em demasiadas abstrações.
Dito isso, cabe-me por fim adentrar nas minhas idéias, em busca daquilo que tenho como liberdade e suas implicações.
Desde muito pequeno tenho escutado as pessoas falarem: sua liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Logo, demarcavam-se para mim os limites de ser livre. Como há muitas pessoas no mundo, eu olhava para todos os lados e sentia-me em uma prisão. Naquele momento eu tinha a liberdade como um fenômeno meramente físico, de forma que, quanto mais pessoas tivessem em torno de mim, menor seria a minha liberdade. Depois pude perceber que as coisas não eram assim tão nítidas. Existiam leis, regulamentos explícitos e implícitos, códigos de ética, de conduta, e uma parafernália moral para limitar a liberdade do indivíduo. Talvez a minha liberdade não terminasse realmente onde começava a liberdade do outro, mas muito antes disso. A partir daí comecei a vislumbrar um mundo cheio de prisões e controles, um mundo em que na maioria das vezes, não tínhamos escolhas e nem poder sobre nossas próprias vidas.
Hoje vejo a liberdade sob outros aspectos, ainda mais sutis e imperceptíveis. Para mim, existem coisas das quais independente da minha vontade, não consigo furtar-me. O problema é que nem sempre esses impulsos se conciliam com as minhas vontades, com meu ideal, o que acaba por gerar conflitos.Com isso, chega o momento da escolha, talvez nesse ponto Sartre nos têm como livres, mas ao meu ver, acabo tornando-e escravo daquilo que triunfa no conflito.
YON MACEDO
(TEXTO EM CONSTRUÇÃO)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mal-estar: nossa nova mina de ouro

Parece-nos que Freud aponta o fenômeno da repressão do desejo pelas regras externas criadas por uma sociedade, como propiciador central do mal-estar humano. Mas, já que é a repressão – em seus vários sentidos possíveis – que constitui mal-estares, por que mesmo após as supostas liberações – ocorridas principalmente ao longo do século XX – ainda paira sobre as cabeças civilizadas inúmeros mal-estares, que às vezes parecem ser mais intensos que outrora? É óbvio que essa indagação, e qualquer outra, não será respondida aqui, pois não se trata de responder algo, mas sim, de manter sempre abertos os campos de pensamento, as variações de percurso.

A repressão aparenta não ser a única coisa que produz mal-estar, pois mesmo com uma considerável atenuação dos aparelhos repressivos – pelo menos em alguns poucos lugares – a vida de uma exorbitante quantidade de pessoas continua se direcionando pela impossibilidade, pela tristeza, pela passividade e pela morbidez.

As redes de poder – que funcionam em macro e micro instâncias – estabelecem não apenas formas de repressão do desejo. Essas instâncias reguladoras homogeneízam as singularidades desejantes, modelam e padronizam as heterogeneidades da existência humanas. Seriam maneiras de produzir o desejo, de gerí-lo, e não de simplesmente reprimi-lo. Esses mecanismos de fabricação e administração de sentidos de vida estão em plena atividade nesse momento.

Diante dos inúmeros discursos de liberação – sexual, religiosa, política, econômica, entre muitas outras – que se proliferam no terreno do presente, parece que o desejo, em suas infindáveis esferas, continua passando por processos de direcionamentos, operados por instâncias reguladoras, empresas da vida que trabalham a todo vapor, ou melhor, em alta performance, maximizando o custo-benefício. O modelo capitalista de mundo se apropria com grande força dos processos de fabricação de sentidos, de produção de desejo, de homogeneização de comportamentos, plasmando formas “bem sucedidas” de vida. Nesse mundo do consumo, em que tudo pode ser comprado, o mal-estar persiste e se transmuta, se multiplica e individualiza. Eis aqui uma rentável mina de ouro da indústria farmacêutica, terapêutica, analítica, religiosa, acadêmica...

Apesar de todas as hipotéticas evoluções que se instauraram na organização das formas-mundo do presente, o mal-estar não foi dissipado, nem sequer reduzido. Parece que a única evolução – ou melhor – transformação ocorrida nos últimos tempos, diz respeito unicamente às técnicas, desde as referentes à maneira de fabricar um determinado produto numa metalúrgica, até a forma “correta” de criar os filhos, de pensar, de praticar esportes, de falar em público, de se relacionar sexualmente, de perceber uma expressão artística... Sempre há uma maneira correta para se fazer tudo. Existem milhões de especialistas sempre prontos para determinar o que podemos fazer ou não. As normas morais se convertem em normas científicas/morais.

A individualidade tão sonhada pelo liberalismo e defendida com unhas e dentes por muitos psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e outros psicotécnicos das mais variadas vertentes, formata modelos de vida – ou sobrevida – que são extremamente débeis, tristes, passivos, cordiais. Vidas serializadas, separadas da potência de agir, individualizadas, subjetividades capitalísticas, talvez sejam alguns dos disparadores dos mal-estares contemporâneos.

Nesse universo de existências atual, que constitui os modos de produção de sentidos de vida, não seria simples falar em um fim do mal-estar. Os próprios modelos de mundo ocidentais parecem necessitar dos mal-estares, apropriam-se deles para a manutenção do processo de perpetuação das paixões tristes, da impossibilidade de ação autônoma e da submissão desmedida.


Mlaicon Barbosa

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Passividade, impossibilidade ou atividade política?


Política! Essa palavra que repetimos incessantemente, geralmente tem aparecido com uma carga que provoca extremo incômodo. O significado desse termo sofreu uma desvalorização, ou no mínimo, um redirecionamento, e freqüentemente relacionamos a política unicamente à atuação dos burocratas que foram eleitos e que ocupam algum cargo dentro do arcabouço estatal. Desilusões com partidos políticos, com membros desses partidos, com um determinado sistema de gestão do Estado ou com o próprio Estado, comumente são transformadas em discursos que estabelecem a impossibilidade de atuação política. É como se esse “terrível fardo” chamado política só servisse para gerar corrupção, relações de dominação, desigualdade social, entre outras coisas desse tipo.

Outro fato muito engraçado que ocorre quando falamos de política, é que sempre lançamos toda a culpa pelos problemas da sociedade para os agentes do Estado, e nos abstemos de qualquer responsabilidade. É como se o nosso voto fosse o único momento de participação política. Ficamos inertes diante de quase tudo, porque já escolhemos alguém que tem a obrigação de resolver as coisas. Não se trata aqui de desresponsabilizar ou desobrigar os ocupantes de cargos estatais, nem significa que estamos fazendo apologia à desestatização neo-liberal. As questões são outras: por que achamos que a política não tem nada a ver com a vida cotidiana? Será que as discussões políticas – sejam elas quais forem – não dizem respeito a nós? Por que consideramos que as práticas políticas situam-se em lugares distantes, às vezes inalcançáveis?

Em momentos de predomínio de um sistema totalitarista de governo, parece que a atividade política é encarada de outra forma, percebida como uma questão próxima. No Brasil temos ótimos exemplos disso, e o fervor político que se instaurou por essas terras durante o regime ditatorial é um deles. Diversos movimentos de resistência se proliferaram, e travaram guerrilhas, às vezes quase imperceptíveis, pela democracia. E finalmente ela veio, trazendo consigo uma apatia política insuportável. Pronto, já temos a tão sonhada democracia representativa, e agora, o que faremos com ela e a partir dela?

Apatia política. Esse é um termo adequado para falarmos do nosso momento. A atividade política desses instantes contemporâneos está impregnada de partidarismos e coisas afins, que sempre institucionalizam e hierarquizam as movimentações políticas, estabelecendo formas mórbidas de organização do poder. Será que realmente não podemos vivenciar outras políticas? Talvez precisemos começar a olhar para uma política “menor”, imanente, que seja outra coisa, para além das organizações rígidas, que sobrevoam os humanos, comprimindo-os, despontencializando-os.