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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Lembrança

Preciso de um desejo de resposta

Necessito da vontade de querer

Tenho sede da bebida que não gosto

Peço esmola daquilo que é meu


Sou metade do que sinto

A outra metade... não cabe em meu corpo


Recebi uma carta escrita por mim

A saudade é grande, mas eu não posso estar comigo agora

Retrocedo anos até chegar aqui

Sou antepassado de sobrinhos filhos e netos


A minha biografia é uma peneira

E por mais que eu a escreva... é uma peneira

E por mais que eu a viva... é uma peneira


Sempre erro de conto...

Nunca encontro... a branca de neve

...Rapunzel...

...Lisbela

Sempre erro de conto...


No fim das contas

Fica apenas a lembrança

De uma vida mal passada

Com fritas e cebola.


Por: W. Santos

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Desarmonias musicais

A música – assim como outras artes em suas singulares expressões – suspende o tempo e cria atmosferas de intensidades, cores e texturas afetivas múltiplas. Os ruídos, sonoridades, barulhos – por vezes estranhos, densos, diferentes, alucinógenos, belos – vão tomando de assalto os ambientes de dentro e de fora, arrepiando, emocionando, levando a viagens pelos lugares de nunca e de sempre – de formas alteradas, novas, encantadoras. Essa fala que vai se desdobrando por aqui nada mais é que uma expressão das alegrias fabricadas por essa maravilhosa arte apaixonante. Lágrimas correm, as coisas vão se desmanchando, aglutinando outras visibilidades, surgindo e ressurgindo sempre diferenciadas. Ela, inunda, vibra no corpo, por todas as espacialidades que às vezes são tão rígidas, tristes, impotentes. Maneira de manifestação que se conecta impetuosamente às possibilidades de invenção de vida. As desarmonias, momentos musicais que produzem uma certa estranheza no corpo, instantes de quebra, de fragmentação dos planos harmônicos, plasmam os instantes de passagem, de redirecionamento sonoro, perceptivo, criativo. Essas fendas sempre cheias, que transbordam territorialidades em movimento, fazem surgir afetos acidentais, sempre ligados às casualidades a que essas passagens remetem. Essas desarmonias não seriam contra-harmonias nem estariam fora da harmonia. Parece que elas percorrem o plano harmônico, misturando as diversas melodias dos elementos constitutivos e os timbres que cavam buracos, compondo os movimentos assincrônicos, as temporalidades assimétricas que vão esculpindo caminhos polifônicos. Dissonâncias, desarranjos, alterações rítmico-temporais, combinações de partículas sonoras variáveis, todas essas particularidades “desarmônicas” fazem surgir aclives e declives que transitam as atmosferas expressivas móveis estendidas pelas maneiras de música. As pluralizações da música e dos afectos e perceptos por ela engendrados, vão alagando, se emaranhando, num tumulto de beleza singular, no ouvido-corpo-ondulável. E continuam simulando coisas indizíveis...

Maicon Barbosa

FANTASIAS

Você é um encanto de maravilha;
A música que toca e mim toca;
A linda rosa que ganhei;
A lua cheia que admiro;
O anjo que imagino;
A maravilha do amor.
O teu corpo é de desejo.
Pessoa encantadora para ser
Correspondida no amor
Como Deus a fez:
Simples, sensível, amável, meiga,
Angelical, ardente, quente, serena,
Selvagem, amante, doce, suave,
Passiva, total.


CABRAL, Reinaldo Ferreira.