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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Você representa para mim
Tudo de pior que o moralismo idiota conseguiu fazer com as pessoas até hoje
Você para mim é o pináculo de anos e anos de repressão do riso
E o seu olhar inquiridor nada mais é que uma inveja implícita
De não ter coragem suficiente para viver a vida da forma que eu vivo
Sem preocupar-me com opiniões alheias
Você vai se arrepender amargamente por esta sua vida medíocre e previsível
Você vai tentar em vão buscar as noites de sexta e sábado perdidas na frente de uma televisão
Mas não vai encontrá-las simplesmente por que elas perderam-se no tempo
A sua vida perdeu-se no tempo
Enquanto você parava para me criticar
Enquanto você parava para me reclamar e dizer o quanto eu estava errado
É uma pena que minha felicidade incomoda-te tanto
Você poderia participar dela
Ao invés de ficar na beira da estrada vendo a vida passar
Você se protege da tristeza
Esquivando-se da felicidade
Que troca mais macabra
Nada por nada
Você é o sucesso de todos os padres e pastores do mundo
Dessas pessoas que se dizem conhecedoras de deus
Com você elas conseguiram os seus objetivos
Que é assustar as pessoas
Você se diz “temente a deus”
É uma pena que você pense assim
Você teme deus e teme a vida e teme a morte
Mas por favor
Não faça da sua covardia a minha tristeza
Pegue toda tralha de textos e escrituras que você trás na cabeça
E vai ser triste bem longe de mim
Por que a minha vida é a minha vida
Você não tem o direito de estragá-la
Com o que você acha que é certo ou errado
Permita-me andar com minhas próprias pernas
Saia do meu caminho agora
Por favor ...

YON

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Inflamagens


Pressentimentos estranhos me tomaram naquele dia. Não os compreendia muito bem, mas eles pulsavam alegremente em mim com variações que me desorientavam totalmente. A tarde era quente. Eu estava sentado sozinho, um pouco distante da entrada. Era como se estivesse esperando que alguma coisa muito importante acontecesse, apesar de não ter nenhum compromisso marcado para aquele instante. Pessoas circulavam por entre a música que inundava o lugar. Uma música extremamente agradável e baixa.


Estava mergulhado num quadro em minha frente quando ela – decidida e tímida – rompeu o limiar entre o dentro e o fora. O seu olhar sereno, terrível, saltou em mim, mas, numa fração de segundo, desviou-se. Lançou-se ao chão com ímpeto. Aos poucos foi percorrendo o assoalho que se estendia risonhamente. Levantou-se com uma lentidão lasciva, e contemplou com solenidade o espaço. Agora ela deslizava suavemente, encantadoramente. Sentou não muito perto. Desde a sua chegada, eu não conseguia parar de fitá-la.


O universo inteiro se condensou naquela paisagem feminina, que me arrastava silenciosamente. O seu delicado rosto aveludado moveu quase que imperceptivelmente. Ela me cumprimentara. Retribui o seu generoso gesto com muito cuidado, pois não queria demonstrar a imensa felicidade que agora irradiava por todo o meu corpo. Mas eu sabia que ela havia percebido tudo. Durante aqueles eternos instantes que se sucederam, uma vigorosa dança instalou-se entre nós. Os olhos dela e os meus passeavam por todos os elementos daquele espaço, mas desejavam se encontrar com todas as forças. E o faziam freqüentemente, com uma grande intensidade e rapidez. Isso já era suficiente para que ambos se sentissem plenos e cheios de vida.


Maicon Barbosa