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sábado, 29 de março de 2008

2006


Sair da mente, vislumbrar o presente...
Ficar absorto no dia de hoje
Um conhecido morreu do coração
Tinha quarenta e quatro anos
Calçava quarenta e dois
Morava na rua um
Casa duzentos e onze
Provavelmente será sepultado
Num caixão de oitocentos reais, ou mais!!

Vejo todos morrendo e eu vou ficando...
Parece até que sou imortal
Alguém me chamou no trânsito
Ao olhar, quase bati o carro...
Menino me pede esmolas
Será que não chego mais em casa?

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Lembro-me de épocas remotas
Onde a senhora vaidade
Brincavas com as pessoas mortas
E aquilo que era verdade
Só se ouvia de pessoas tortas

Depois segui adiante
Brincava de senhora viva
Em meio a pessoas errantes
Entortando os caminhos da vida
Quis eternizar aqueles instantes

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Como sou filho do meu tempo!
Como posso tentar negar isso?
Posso enlouquecer, posso mesmo chegar à esquizofrenia...
Sou filho do meu tempo.
Sou herdeiro de todos os ideais desta sociedade em que nasci.
Qualquer tentativa de ruptura brusca é loucura
Qualquer tentativa de fuga é covardia
Por que sou filho do meu tempo
Devo algo a esta civilização em que nasci (DESPREZO?!)
Não tenho maturidade para dar um passo tão longo
Em uma única existência...
(Matos Macedo)

Tibet e Cuba


Uma China gigante, anômala, cada vez mais aberta ao capital se sobrepõe a um nanico Tibet, dominado, humilhado, ferido em sua cultura milenar.
Não, nem o Tibet e nem nação alguma tem direito de se isolar e viver como bem entender. É uma regra implícita do capitalismo, aqueles que não entrarem no jogo serão embargados, desprezados e se vacilarem, invadidos.
Vejam o que aconteceu em Cuba: situação diferente, contexto diverso, mas pano de fundo igual.Uma nação procurando outros caminhos, ousando tentar um caminho diferente, algo que realmente viesse ao encontro do anseio de um povo pobre da América Latina.Muitos não puderam aceitar.Parece que ferem aos olhos olhar para o lado e perceber que tem alguém diferente.Ou talvez seja o fato de o diferente não ser um cliente potencial, afinal, qual o interesse que uma bugiganga chinesa causaria a um monge tibetano?
Saindo da geopolítica e vislumbrando o cotidiano em que vivemos, não estamos distantes da mesma regra.Foi-se o tempo dos ermitãos que se isolavam ou dos hipes que procuravam viver a sociedade alternativa.
Todos fazemos parte do mesmo jogo e não existe qualquer possibilidade de fuga.Quando tentamos fugir, nos damos conta que o capital é onipresente e onipotente.Sejam budistas tibetanos ou católicos cubanos, por mais que rezem para deuses diferentes, são castigados pelo mesmo demônio:o capitalismo.
(Macedo Matos)

sábado, 8 de março de 2008

Janelas

Foto: Sebastião Salgado


Pelo buraco na parede, salto na realidade que passa.
Nessa fresta, a luz das cores inunda a curiosidade.
Em frente à janela perdida em sua abertura,
há milhares de outras olhando pra cá.
Que escrevem paisagens alheias como as que são desenhadas daqui.
Corte em qualquer parede, que recorta um universo cortante...
Fere os sentidos, abre chagas na pele da sensibilidade.
Realidades que se sobrepõem incessantemente.
Correnteza de imagens, texturas...
Espetáculo devorando, incompreendido em movimento.
Que por vezes inventa estátuas e sons de sinos pontuais.
Fenda estática que me percorre, e empurra para direções desorientadas.
Buraco na parede que salta em mim, quando não passo.
Absorve traços e tonalidades de tudo
Janela que engole paredes.

Maicon Barbosa