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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Peso do dia

Me sinto idiota demais agora. O mundo me pesa, como toneladas que quase afundam o cargueiro pesado, apesar de este não ser tão velho assim. Os olhos ardem diante de tanta confusão. Mãos vazias não seguram. Sorvo-me em meus pesares, como um punhado de chumbo lançado nos turvos córregos de uma cidade sempre suja. Me sinto alheia à vida que vivo. Só quero a recusa dela. Empapuçada estou cá. Entojo! Náusea que rasga a pele do dia findado. Mas ainda não fui me deitar. Na verdade, nesse momento desenrolo meu ofício penosamente. Um sono já seria um alívio. Ah, como preciso dormir do mundo! Um tarde de desencontros. Mas acho que não é só isso. O que desejo afinal? A moça de pernas à mostra não me é bonita. Não Agora. O peso da vida inteira de um dia eterno resolve desabar sobre as costas exaustas. Acho que é um desabafo do corpo quase adormecido pela dor. Olhando pra esse meu ofício idiota, me desintegro. O fio da agulha desregulada do tempo corta a carne vestida de tristeza. A tagarelice me apunhala o peito febril. Pros diabos com tanta merda dita! Com tanto ressentimento, com tanta lembrança ruim! Explodam-se os falatórios, as discussões, as gritarias que não agüentam sofrer! Ainda não sei escutar nada. Ainda não...


Ana Laura Navegueiro