.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Fragmentos de loucura 1

Era setembro. Tive um daqueles ataques existencialistas que o efeito placebo de Deus não consegue evitar.
Estava afogando-me nos encantos da fada verde, tal qual Van Gogh, Baudelaire e Crowley.
Falaram que eu estava doido, que não discernia mais dentro da lógica maniqueísta. Insinuaram que eu estava indo contra os princípios cristãos. (Aos Diabos com eles, os princípios!)
Minha química cerebral alterara-se sensivelmente com excessos e abstinências de serotonina.
Um dia, acordei. Neste, embora fosse um dia de jogo pela “sobrevivência”, não me levantei. Permaneci imóvel, inerte, sonolento e vagabundo... Poeira enfeitava a minha casa dando um tom diferente nos móveis. Contas acumulavam-se embaixo da porta. Em mim, não havia ninguém disposto a pagá-las. Eu só via o oposto. Minha cama estava de costas para a entrada do quarto.
Havia no chão partes de livros que eu tentara queimar na véspera, Comte, Hans Kelsen, Darwin e Herbert Spencer.
Havia em mim a esquizofrenia de pensar os opostos como iguais.
Havia no ar o anacronismo saudoso dos meus contemporâneos românticos.
O espaço em meu entorno era a louca dança dos conceitos na atmosfera...

Yon

3 comentários:

Maicon disse...

Fui pego de súbito agora. Que texto denso, perturbador, alegre e melancólico, tudo ao mesmo tempo. A sutileza de escrever alguns acasos e tragédias é qualidade de poucos. Pouquíssimos, meu caro!

Bruno Costa disse...

O texto é excelente! Sempre que a loucura comparece, nos afeta de modo a não sabermos exatamente explicar. Parabéns!

Joyce Abbade disse...

Belo texto. O caos é necessário, assim como a loucura, de certa forma, em alguns momentos. Façamos dessa revolução em nós, a clareza quando houver dúvida e desepero.