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quarta-feira, 19 de maio de 2010

parvo

Uma ressaca áspera toma tudo. Soluços de um cachorro de rua meio contente, meio disperso, meio desaprendido. Demasiado inesperado. Ele não consegue sentir alegria por muito tempo. Nem tristeza. É um poço de oscilação. Os outros bichos da noite anterior não o reconhecem. Tanto faz. Ele está outra vez rente ao limbo. As pernas e patas pesam e quase estacionam no pegajoso ar desse crepúsculo sem fim. Ainda há gente passando por perto. Mas que importância tem isso? As orquídeas infestam o mundo agora. Elas bailam em cima de uma calçada enrugada. Cão obstinado e incerto. Quem poderia acreditar ao menos numa palavra sua? Os olhos nem sempre pedem algo. Tem dias que eles brincam e gritam até cansar daquele mundo de fadas e ogros. É carnaval. Porém, as ruas pelas quais ele circula estão desertas. Ele sabe que não é muito suportável, e por isso prefere vagar.

Maicon Barbosa

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