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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Agulha menor

Hoje, estou quase triste. Mas, nem tristeza sinto. Depois de alguns poucos instantes de euforia atônita, apaixonada por algumas vozes vindas da parede, atirei-me ao chão. Desejava, como se fosse o último dos desejo, colar minha pele ao solo quase frio, branco e meio sujo. Fiquei deitada ali durante um tempo que não sei medir. Ainda não sabia o que queria sentir. Talvez, fosse apenas aquele vazio pleno mesmo. Pleno por um instante minúsculo. As vozes continuavam me atiçando. Ouviam-se risos de gozo. Inerte no chão, eu olhava o quarto de outro ângulo. Tudo ganhava um cheiro imediato. O vazio pleno queria ir-se. Coisas vinham chegando aos montes e disparavam o peito. Longe, longe de tudo eu estava. E só me interessava em olhar, encantada e besta, o teto, as paredes e os poucos móveis que ao meu redor se punham. O chão havia se grudado de tal forma ao meu corpo, que ambos sentiam-se o mesmo, durante o movimento ínfimo da menor agulha do relógio desregulado da vida.


Ana Laura Navegueiro

2 comentários:

Juliette disse...

As vozes... sempre as vozes.

Yon disse...

"Hoje, estou quase triste." Sinto-me exatamente assim Hoje !!