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segunda-feira, 22 de junho de 2009

afazeres cotidianos

Uma manhã ensolarada, de clima muito agradável. Ela entra pelas minhas frestas. Sempre está linda, mas hoje o ar matinal ampliou sua beleza a ponto de embaralhar os olhos de qualquer voyeur. Ela. Séria. Expressões compenetradas. Rosto sempre cerrado. Extremamente exasperada. Têm um quê de indiferença. Desliza pela superfície do seu corpo um charme irresistível, que embriaga, encanta. Feitiço angelical. Põe as mãos no rosto como quem esconde os olhos. Seus dedos passeiam por detrás da orelha para arrumar o cabelo que desaba sobre o rosto. Suas mexas têm vida própria. Dançam no vento como bailarinas ao som de Tchaikovsky. Parece impaciente. Tem um olhar distante, que percorre tudo que passa. Arranja os cabelos de um jeito que... tira o fôlego. Limpa, minuciosamente, as superfícies. Parece dançar com a vassoura nas mãos. Seus pés parecem de porcelana, com aquele aspecto de quem quase nunca vê o sol. O que os separa do chão, da terra molhada, é apenas uma tímida sandália de dedos, que ensaia pequenos abandonos. Pés fugazes e terra molhada: paisagem que se desenha em curvas de perfeição exagerada. Ela. Séria. Me fez estremecer. E estava apenas cuidando dos afazeres cotidianos.

Maicon Barbosa

4 comentários:

pensatividades disse...

Assim como no filme "O Perfume", o persongem consegue extrair das meninas virgens a sua essência, você tem comseguido transformar em palavras o universo gestual da feminina.Muita percepção.

Yon

Juliette disse...

Um dia quem sabe, serei uma dama como essa.. enquanto isso, sou um damo cavalheira de quem as pessoas decidem manter distância...

Maicon disse...

Algumas distâncias são necessárias à vida temporariamente. Elas podem impedir que as relações se tornem mortíferas... Mas às vezes também produzem os efeitos contrários. (antecipações...)

Unknown disse...

Sempre fortes suas palavras, dignas de reais sentimentos e afetos.