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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ainda é possível uma revolução? Egito...


O povo nas ruas do Egito me excita algo meio indizível. Imagens dos protestos não param de se multiplicar pela internet, e em outros lugares. Gente correndo, gritando, ensangüentada, apanhando, batendo, cantando, sorrindo, com raiva... Imagens e notícias que nos incomodam de algum modo. Que falam da possibilidade, às vezes esquecida, de que outro mundo é possível. As multidões de egípcios que tomam as ruas, clamando pela queda de um ditador, não tem nenhum líder. A própria multidão se organizou, sem nenhuma necessidade de uma liderança hierárquica que a conduzisse pelo bom-caminho da revolução. Nada disso! Uma revolta coletiva se instalou no território egípcio. Homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, pobres, ricos, desempregados, trabalhadores, vagabundos: essas classificações se desmancham em meio à multidão que está criando outras possibilidades de existência. As massas tão temidas na Europa, sobretudo a partir do século XIX, e no resto do mundo ocidental – herdeiro desse medo do povo – fazem tremer agora um outro lugar de poder. Muitas e muitas coisas se passam nisso tudo que insistimos em chamar de revolução. Entretanto, ninguém precisou dar consciência às massas para que elas saíssem às ruas pra fazer sua história no presente. Apesar de os partidos de esquerda do país e os sindicatos estarem envolvidos nas manifestações, a revolta dos egípcios não começou com uma liderança. Talvez, com esses acontecimentos iniciados em janeiro de 2011 no Egito, assim como na Tunísia – país onde os protestos do povo derrubaram um regime de governo –, possamos pensar essa possibilidade de composição coletiva que não necessita de nenhum líder para funcionar, para se pôr a pulsar. Óbvio que a violência atravessa esses protestos, e na maioria das vezes, ela vem da polícia, do exército e principalmente de “policiais sem uniforme disfarçados de partidários” do presidente Hosni Mubarak, que está há trinta anos no governo. Mas não sejamos ingênuos: os protestantes também usam da violência, e com toda razão! Não se trata de legitimar ou deslegitimar os protestos por conta do uso da violência. O que se passa é mais importante do que isso. Muitos morreram durante os levantes, mas as ruas continuam cheias de gente que querem mudar as coisas. Não se sabe onde essa revolução sem lideres vai chegar, e se de fato o regime de Mubarak vai cair. No entanto, o que podemos pensar a partir de tudo isso é que uma multidão se organizou sem lideranças para transformar sua própria vida, fazendo estremecer poderes institucionais sedimentados há muito tempo. Independentemente do desfecho dessa história, algo se passou, alguma coisa foi transformada na vida dos egípcios que gritam por um outro mundo, feito aqui mesmo, e agora. De fato, eles estão fazendo política, e das mais intensas e contagiantes. Essa multidão que deseja nos ensina muita coisa, e também nos incita um certo desejo, meio incerto, de revolução, mesmo que seja daquelas pequeninas, que não fazem muito barulho.


Maicon Barbosa

Para assinar um abaixo-assinado de pessoas do mundo inteiro em apoio ao povo egípcio acesse: https://secure.avaaz.org/po/democracy_for_egypt_l/?donateyourstatus2

2 comentários:

Yon disse...

Enfim o antigo regime caiu.E agora, todos felizes para sempre?

Gostei do texto !

Maicon disse...

"Felizes para sempre": ótima provocação. Não sei se é de felicidade que tudo isso fala, mas, algo se passou e está se passando. Política imanente, talvez. O poder - que quase sempre nos nosso modernos Estados separa-se essencialmente do povo - parece que se colocou outra vez (e certamente por breves instantes) à multidão.