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quinta-feira, 9 de julho de 2009

9 de Julho

Apenas as nossas peles e talvez algum espaço separavam-nos. Eu estava muito próximo dela, mas não tinha a coragem de fitar seus olhos. O prazer era-me grande demais somente por estar tão perto; seu sorriso embriagava-me, eu amava cem vezes a mesma pessoa e ao mesmo tempo.Não pude evitar uma tontura iminente, um sentimento nauseante, como se eu já não tivesse pele nem qualquer coisa parecida com corpo. Ela também estava assim, pairando no ambiente, e os nossos átomos confundiram-se. Mas de repente, volto para a poltrona onde estava sentando e ela retorna ao seu lugar. Parece que o meu corpo está se fundindo aos poucos e pressinto que o meu coração pode sair pela boca. Sorrimos. Alguém conta uma piada, não presto a mínima atenção por que o restante de mim está tenso, mas finjo relaxar. Simulo estar seguro e tento convencer-me que não serei espalhado pelo primeiro sibilar de vento. Ela sorri, o sorriso dela é-me o tudo. Não, não posso dispersar-me novamente, preciso ir embora enquanto consigo! Eu preciso lembrar-me a todo momento que atribuem-me um nome, um endereço, um ofício! Não posso perder-me na frente dela, tentando classificar momentos para além dos momentos, onde conceitos não alcançam. Mas a minha odisséia continua: ela olha para mim. Pergunta-me alguma coisa trivial...Ora ! A minha própria morte seria algo trivial naquele instante. Nem sei como respondi; ela olha - me mais uma vez e parece se despedir. Estará indo embora ? É o que suspeito, e depois , o que se confirma: ela levanta e vai ...

Acabou.

Uma pausa.

Um rio pára de fluir.

Ondas num mar ficam extáticas.

Um cadáver não seria mais imóvel.

Acabou.

Sinto -me completo. Tenho novamente um nome e minha pele limita-me ao meu corpo. Transcendento-me nesse momento, imaginando quando voltarei a vê-la.


Yon Macedo



3 comentários:

Maicon disse...

Os encontros com a paisagem feminina realmente são sempre incontroláveis, mágicos, inesquecíveis... Esses furacões vão nos desconcertando mesmo. E ficamos espalhados por todos os lados, meio perdidos, assustados, felizes, boquiabertos, perplexos, vivos!

Yon disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yon disse...

São encontros (ou desencontros) inexplicáveis, para além de tudo.aquela pausa que tem no seu outro texto diz (quase) tudo: ela.