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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Passividade, impossibilidade ou atividade política?


Política! Essa palavra que repetimos incessantemente, geralmente tem aparecido com uma carga que provoca extremo incômodo. O significado desse termo sofreu uma desvalorização, ou no mínimo, um redirecionamento, e freqüentemente relacionamos a política unicamente à atuação dos burocratas que foram eleitos e que ocupam algum cargo dentro do arcabouço estatal. Desilusões com partidos políticos, com membros desses partidos, com um determinado sistema de gestão do Estado ou com o próprio Estado, comumente são transformadas em discursos que estabelecem a impossibilidade de atuação política. É como se esse “terrível fardo” chamado política só servisse para gerar corrupção, relações de dominação, desigualdade social, entre outras coisas desse tipo.

Outro fato muito engraçado que ocorre quando falamos de política, é que sempre lançamos toda a culpa pelos problemas da sociedade para os agentes do Estado, e nos abstemos de qualquer responsabilidade. É como se o nosso voto fosse o único momento de participação política. Ficamos inertes diante de quase tudo, porque já escolhemos alguém que tem a obrigação de resolver as coisas. Não se trata aqui de desresponsabilizar ou desobrigar os ocupantes de cargos estatais, nem significa que estamos fazendo apologia à desestatização neo-liberal. As questões são outras: por que achamos que a política não tem nada a ver com a vida cotidiana? Será que as discussões políticas – sejam elas quais forem – não dizem respeito a nós? Por que consideramos que as práticas políticas situam-se em lugares distantes, às vezes inalcançáveis?

Em momentos de predomínio de um sistema totalitarista de governo, parece que a atividade política é encarada de outra forma, percebida como uma questão próxima. No Brasil temos ótimos exemplos disso, e o fervor político que se instaurou por essas terras durante o regime ditatorial é um deles. Diversos movimentos de resistência se proliferaram, e travaram guerrilhas, às vezes quase imperceptíveis, pela democracia. E finalmente ela veio, trazendo consigo uma apatia política insuportável. Pronto, já temos a tão sonhada democracia representativa, e agora, o que faremos com ela e a partir dela?

Apatia política. Esse é um termo adequado para falarmos do nosso momento. A atividade política desses instantes contemporâneos está impregnada de partidarismos e coisas afins, que sempre institucionalizam e hierarquizam as movimentações políticas, estabelecendo formas mórbidas de organização do poder. Será que realmente não podemos vivenciar outras políticas? Talvez precisemos começar a olhar para uma política “menor”, imanente, que seja outra coisa, para além das organizações rígidas, que sobrevoam os humanos, comprimindo-os, despontencializando-os.

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