Maicon Barbosa
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Desarmonias musicais
A música – assim como outras artes em suas singulares expressões – suspende o tempo e cria atmosferas de intensidades, cores e texturas afetivas múltiplas. Os ruídos, sonoridades, barulhos – por vezes estranhos, densos, diferentes, alucinógenos, belos – vão tomando de assalto os ambientes de dentro e de fora, arrepiando, emocionando, levando a viagens pelos lugares de nunca e de sempre – de formas alteradas, novas, encantadoras. Essa fala que vai se desdobrando por aqui nada mais é que uma expressão das alegrias fabricadas por essa maravilhosa arte apaixonante. Lágrimas correm, as coisas vão se desmanchando, aglutinando outras visibilidades, surgindo e ressurgindo sempre diferenciadas. Ela, inunda, vibra no corpo, por todas as espacialidades que às vezes são tão rígidas, tristes, impotentes. Maneira de manifestação que se conecta impetuosamente às possibilidades de invenção de vida. As desarmonias, momentos musicais que produzem uma certa estranheza no corpo, instantes de quebra, de fragmentação dos planos harmônicos, plasmam os instantes de passagem, de redirecionamento sonoro, perceptivo, criativo. Essas fendas sempre cheias, que transbordam territorialidades em movimento, fazem surgir afetos acidentais, sempre ligados às casualidades a que essas passagens remetem. Essas desarmonias não seriam contra-harmonias nem estariam fora da harmonia. Parece que elas percorrem o plano harmônico, misturando as diversas melodias dos elementos constitutivos e os timbres que cavam buracos, compondo os movimentos assincrônicos, as temporalidades assimétricas que vão esculpindo caminhos polifônicos. Dissonâncias, desarranjos, alterações rítmico-temporais, combinações de partículas sonoras variáveis, todas essas particularidades “desarmônicas” fazem surgir aclives e declives que transitam as atmosferas expressivas móveis estendidas pelas maneiras de música. As pluralizações da música e dos afectos e perceptos por ela engendrados, vão alagando, se emaranhando, num tumulto de beleza singular, no ouvido-corpo-ondulável. E continuam simulando coisas indizíveis...
Maicon Barbosa
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