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sábado, 11 de setembro de 2010

Lágrimas afiadas de uma incerta moça

A noite de ontem não passou ainda. Uma menina se desmanchava em lágrimas. A beleza ficava mais bonita do que nunca. Essa menina não era muito afeita aos afoitos. Olhinhos sapecas que brilhavam na noite barulhenta. Eles faziam um silencio encantador. Língua afiada feito navalha de malandro das antigas. Vestido branco que balançava com o vento. Sensações amorfas nos tomavam de súbito e passavam deixando rastros alegres. Outra vez as lágrimas, que transbordavam seu rosto e seu corpo vazio e pleno de tudo. Ela não queria nada, e falava de Pessoa com uma vontade dos diachos. Uma moça quase sem ambições, quase. O gosto de vinho molhava a vida. Caranguejos, almas analógicas e almas digitais dançavam o som dos zumbis com uma nação de entidades sampleadas. Noite de desassossego, de vulnerabilidades e de risos imersos num mar de força. A pressa, o resfriado e a repulsa de gente, foram embora às carreiras. Essa noite eternizada no presente agarrou o tempo pelos cabelos, e o convidou para uma festa descombinada, de poucos. A menina descosturava o mundo, puxava linhas remotas e metia agulhas no horizonte. As forças daquela noite não cabiam no seu corpo que dançava. Ela não sabia correr, mas dançava arrebatada, inocente e maliciosa. Como o vento meio frio que açoitava a cidade adormecida, ela desmanchava-se em mil linhas e surgia de novo em desdobros carnais.

Maicon Barbosa

sábado, 4 de setembro de 2010

Quem é ela?

Nunca soube lidar direito com a solidão. Ela sempre me passa rasteira e me coloca a verter rios de lágrimas que não são molhadas. Ao mesmo tempo, ela me deixa forte, mas tão forte, que sem ela eu não teria vivido. Que mulher encantadora é ela, a solidão! Nunca se sabe de que lado da cama ela vai acordar, com que rosto ela vai amanhecer. Será que vou amá-la ou odiá-la amanhã? Que vestes encobrirão seu corpo trêmulo? Quais serão as ilusões que sua boca carnal me fará acreditar? Quando a provo, não sei distinguir o doce do amargo, nem o azedo do sal. Minha língua enlouquece nesse corpo fugidio. Seus mistérios são tantos que não cabem num só palavra. Outra vez, ela me faz estremecer toda. Quando penso que a conheço, pelo menos um pouquinho, ela me esbofeteia com as costas da mão, me violenta de todo jeito e me deixa mulher. Nos damos bem. Seu ar de indiferença, que faz pouco caso de tudo, apaixona. Que horas vais me largar? Quando é que vens me fazer? Ela endiabra a vida de leveza e de torpor.

Ana Laura Navegueiro