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sábado, 24 de janeiro de 2009

Atropelos


A cidade me atropela. Tira-me o fôlego. Faz explodir milhares de tremores, indecifráveis, sísmicos, velozes. O que se passa no corpo seria completamente indizível, se não existisse uma certa habilidade para simular os acontecimentos, para produzir outros. Azáfama. Matilhas ladram. Ladrões. A cidade nos engole com sua multiplicidade, e descer por essa garganta vivaz não é nada confortável. Nada de turismos asséptico
s. O que irrompe aqui é a transmutação do viajante em nativo. Transmutação sempre temporária. Tornar-se um daqueles/esses. Virar o lugar. Ser absolvido pelas pulsações do lugar. Não basta olhar a paisagem de longe, por detrás de vidros homeostáticos. A cidade alheia e arredia, por vezes se coloca de tal maneira no corpo, que compreendemos muito bem, nesses momentos, a vida de um vidente. Ver o além. O além dos além. Não um além transcendente, cujos pés nunca tocaram o solo, e nunca tropeçaram numa poça de lama. Trata-se de um além estético, que pulula nas experiências artísticas e estilísticas do corpo. Ser vidente. Isso não é fácil ou tranqüilo. Sentir os universos insignificáveis que se deslocam nos movimentos cotidianos da urbe. Estranhamento. Isso ativa o corpo, fragmenta vitrificações e congelamentos mortificantes. Continuo sem ar. Respiro tudo agora. Não me contento apenas com o oxigênio. Quero as poluições; todas elas. O suor respira tudo. O delírio. Gente passa, anda, corre, morde, pula, cheira, e olha prá cá. Uma multidão irreconhecível me povoa. A lente da câmera sanguínea salta de repente. O que há agora é um olho/corpo onipresente. Onipresença desse presente, a única vivível. Sinto tudo. A vida gira e despedaça as calmarias. Gritei há alguns minutos. Gritos desesperados. Não sei se ouviram, mas os urros foram altos, estridentes. Vibraram por todos os poros. Continuam vibrando. Os poros se dilatam. Absorvem os climas. O lugar fala em mim. Ele é quem escreve esses emaranhados. Ele é desordenado. Anda, subvertendo. O enxame de línguas estranhas segue mordendo, arrancando pedaços. Só há dentes no corpo. Dentes das línguas estranhas e animalescas.

Maicon Barbosa

domingo, 11 de janeiro de 2009

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Decidi abandonar todas as ilusões que eu ainda tinha
Quanto a esse amor, quanto a nois dois
Decidi parar de sofrer e de alimentar esse câncer
Que há algum tempo me devora
Essa saudade louca que eu tenho de tudo que vivemos
Decidi ignorá-la
A ilusão que eu tinha da sua pessoa
Decidi que não vale mais a pena cultivar
A pessoa que eu quero só existe nos meus sonhos
A paixão que eu imagino nunca existiu tal como a vejo hoje
Tudo é pontencializado
Pela saudade que eu sinto e que decidi
Abandonar para sempre...

Yon

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Uma tarde-noite-madrugada-quase-amanhecer do fim de algum ano.


Alguns instantes são eternizáveis! É isso que pulsa nesse momento, nesse esboço de alguma coisa, de sei-lá-o-quê. Encontros acidentais. A amizade é – em certa medida – um universo de acidentes, colisões inesperadas, às vezes até premunidas, que colore insistentemente a vida. Os elementos dessa atmosfera fortuita misturam-se numa profusão indecifrável. Radiohead, bebidas fermentadas, Nação Zumbi, biscoitos sabor churrasco, conversas sobre política, Led Zeppelin, petiscos penosamente assados, José Saramago, “forasteiros” daqui, prosas sobre filosofia, Chico Buarque, devaneios em relação à vida sentimental, estridentes gargalhadas, balbucios sobre cinema, nostalgias diversas... E isso ainda não é tudo. Gaguejos sobre a morte, Kafka, narrativas sobre os ossos e ócios do ofício, o desejo de ler Jack Kerouac, piadas nordestinas, (por vezes a massa sonora entupia os ouvidos) Virginia Woolf, festas passadas e futuras, Afonso Manta, divagações sobre amigos ausentes. Ainda não é tudo... mas não é necessário estender demasiadamente a lista. Todas essas coisas estavam no encontro, naquele acontecimento de uma tarde-noite-madrugada-quase-amanhecer do fim de algum ano. Ou será começo? Prossigamos. Amigos se encontrando casualmente: haveria outra feracidade como essa na vida? Parece que as melhores comemorações são as que não têm motivo algum! (Talvez continue...)


Maicon Barbosa